Uma startup faz uma inovação, entra no seleto grupo de companhias que estão desbravando um novo mercado e, quando começa a ter algum sucesso, uma gigante lança um produto similar. Essa clássica história do mundo dos negócios costuma acabar em lágrimas para o lado mais fraco, mas tem suas exceções.
A Looppay, empresa americana especializada em pagamentos digitais por celular, foi criada em 2012 em Boston. Inovou nas pesquisas que permitem efetivar transações aproximando o celular da máquina de cartão — sua tecnologia cria um campo magnético emulando um cartão de crédito.Desde que a Apple entrou no segmento de pagamentos móveis com o lançamento do Apple Pay, no ano passado, o interesse despertado pelas descobertas da Looppay aumentou exponencialmente — ela passou a ser assediada por grandes companhias.
A Apple não ajudou apenas a Looppay. Deu um empurrão em todas as outras empresas, cuja meta é aposentar os cartões de crédito dos consumidores americanos.
Já há alguns anos o maior problema do segmento de pagamentos móveis tem sido convencer lojistas e consumidores das vantagens do uso do celular. Do ponto de vista tecnológico, os recursos existentes são mais que suficientes para sua popularização. Mas a verdade é que esse setor não decola em lugar nenhum.
Nos Estados Unidos, um dos lugares onde está mais avançado, ele representa 0,03% do total de pagamentos. Para os consumidores, o cartão de crédito continua sendo um jeito prático e seguro de fazer compras. Pelo menos era assim até a Apple entrar em campo. Hoje, mais de 200 000 locais de venda nos Estados Unidos aceitam o Apple Pay.
Somente no último trimestre do ano passado, 800 000 clientes do Bank of America, um dos maiores do país, pediram para habilitar seus celulares e usar o novo sistema da Apple. Os números ainda são preliminares, mas aumenta a expectativa de que a Apple vai fazer no setor de pagamentos móveis o que fez no mercado de tablets, que só deslanchou após o lançamento do iPad em 2010.
De acordo com a consultoria Euromonitor, as transações pagas com celular nos Estados Unidos sairão dos atuais 5 bilhões de dólares e chegarão a 75 bilhões em cinco anos.
Outros pesos-pesados da tecnologia também estão se mexendo. De acordo com o jornal The Wall Street Journal, o Google, que entrou no segmento de pagamentos móveis com o lançamento do Google Wallet em 2011, está negociando a compra da concorrente Softcard, joint venture entre as empresas de telefonia AT&T, T-Mobile e Verizon.
Segundo alguns dos blogs de tecnologia mais respeitados dos Estados Unidos, a fabricante de celulares Samsung estaria interessada na inovação da Looppay. A startup ainda não firmou acordos com fabricantes de celulares, mas diz que está próxima disso. “Até o fim do ano deveremos fazer o anúncio de uma parceria”, diz Gregory Mann, executivo da Looppay.
Nenhuma das grandes empresas americanas tem operação relevante no Brasil, e o Apple Pay não tem data para desembarcar no país. “Estamos alguns anos atrás, mas isso não significa que o mesmo fenômeno não vá acontecer aqui”, diz Michelle Evans, analista da Euromonitor.
Pelos cálculos da consultoria, os pagamentos móveis no Brasil deverão chegar a 400 milhões de reais até o fim da década. Se as previsões estiverem certas, em breve a onda deverá se espalhar. Possivelmente vamos acabar sem nossa carteira — e não vamos achar isso ruim.
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