sábado, 20 de dezembro de 2014

Nokia: A história da empresa centenária que largou os telemóveis num negócio que representa o fim de uma era

Nokia: A história da empresa centenária que largou os telemóveis num negócio que representa o fim de uma era
 
 
A história da Nokia é centenária mas ganhou destaque só na década de 90, quando inovou no lançamento de telemóveis, uma actividade que levou a empresa finlandesa ao topo do mundo empresarial. O negócio hoje fechado com a Microsoft marca a queda dum gigante e, para muitos, também o fim de uma era.
A compra do negócio de telemóveis da Nokia por parte da Microsoft está a ser classificado como o fim de uma era, o último acto da queda de um gigante e uma nova tentativa da empresa fundada por Bill Gates para encetar uma estratégia de combate à Apple e outras gigantes tecnológicas.
 
Começando pela Nokia, este negócio traduz o culminar de vários anos de declínio da outrora gigante finlandesa, uma empresa com mais de 100 anos de história, que obviamente não iniciou a sua actividade nos telemóveis e agora vai ter como única actividade o fornecimento de equipamentos para o sector das telecomunicações.

A História

A história da Nokia remonta a 1871, quando Frederick Idestam se inspirou no rio Nokianvitra – junto ao qual instalou a sua segunda fábrica de produção de pasta - para dar nome à companhia. Nos anos posteriores a empresa dedicou-se ao fabrico dos mais variados produtos, como pneus, botas (que ainda hoje são fabricadas) e cabos, de acordo com cronologias realizadas pela Reuters e pelo Guardian.
 
Em 1967 acontece a fusão entre a Nokia, a Finnish Cable Networks e a Finnish Rubber, sendo que 12 anos depois é criada uma empresa (Mobira Oy), que se dedica às telecomunicações e resulta de uma parceria com a fabricante de televisões Salora. É esta companhia que lança o primeiro telefone celular num automóvel, em 1982.
 
Ao Mobira Senator sucede o Mobira Talkman, dois anos depois. Em 1987 acontece o primeiro lançamento marcante, o Mobira Cityman, o primeiro aparelho portátil. Pesa 800 gramas, custa 4.650 euros e fica conhecido por “gorba”, pois o então líder soviético, Mikhail Gorbachev, é fotografado nas ruas de Helsínquia a telefonar para o seu ministro das comunicações em Moscovo. Um acto hoje banal, mas que na altura foi marcante.
 
Cinco anos depois, em 1992, a Nokia concentra-se nas telecomunicações e lança o primeiro telemóvel com tecnologia GSM, o Nokia 1011. Em 1994 é lançada a série 2100, que se revela um grande sucesso. A empresa prevê vender 400 mil unidades, mas as vendas atingem 20 milhões.
 
Rapidamente a empresa finlandesa se torna líder mundial, um posto que só viria a perder completamente no ano passado. O primeiro telemóvel com acesso à Internet (o Nokia 7110, na foto) é lançado em 1999, o primeiro aparelho com câmara fotográfica (o Nokia 7650) em 2001 e no ano seguinte o primeiro telemóvel que permite captar vídeo (o Nokia 3650). Também em 2002 é lançado o primeiro telemóvel 3G (Nokia 6650).
 
Estes são anos de liderança quase incontestada por parte da Nokia, mas é já neste século que começam a surgir os primeiros sinais de alarme para a empresa finlandesa. Em 2004 começa a perder quota de mercado para os rivais, com uma descida para 35%, mas é em 2007 que acontece o verdadeiro evento que viria a marcar o princípio do fim do domínio da Nokia. A Apple lançou o primeiro iPhone e a partir daí a tendência para a Nokia é quase sempre de queda, já que a empresa nunca conseguiu lançar “smartphones” apelativos para os utilizadores.
 
2008 e 2009 são anos de quedas nos lucros e nas acções da empresa, que recorre a despedimentos para contrariar a descida nas vendas. Pelo contrário, a Apple, e também a Samsung, vêem as suas vendas disparar. Em 2011 o ainda CEO da Nokia, Stephen Elop, anunciou uma parceria com a Microsoft, utilizando o sistema operativo da empresa norte-americana onde trabalhava (e para a qual agora regressa) nos novos telemóveis da Nokia. A estratégia do gestor canadiano passou por mais cortes de postos de trabalho (no total eliminou mais de 20 mil) e deslocalizações da produção para a Ásia (a última fábrica na Finlândia fechou em 2012).
 
Depois de ter perdido a liderança nos “smartphones” para a Apple e Samsung em 2011, no ano seguinte a Nokia perde também o posto de líder no número total de telemóveis vendidos, para a companhia sul coreana. A empresa finlandesa tem hoje uma quota de mercado global de apenas 15%, enquanto nos “smartphones” é quase residual (3%).
 
Nove trimestres consecutivos de prejuízos (acumulou perdas de mais de 5 mil milhões de euros) e corte do “rating” para lixo conduziram à inevitável venda da unidade de telemóveis, que representa actualmente cerca de metade das suas receitas. A outra parte é obtida com a unidade de equipamentos para telecomunicações, a Nokia Solutions and Networks, uma empresa com presença em Portugal e que foi outrora uma parceria desfeita com a alemã Siemens.

O fim de uma era

Francisco Jerónimo, da IDC, bem como outros analistas, classifica o negócio hoje conhecido com o fim de uma era. Das três grandes fabricantes de telefones móveis de alguns anos atrás – Nokia, Motorola e Ericsson – a empresa finlandesa foi a última a vender o negócio. A Ericsson foi a primeira a “abandonar o barco” e a companhia norte-americana alienou a unidade de telemóveis à Google, num movimento da tecnológica que a Microsoft agora replica.
 
A tendência passa agora por as tecnológicas que fabricam os sistemas operativos serem também responsáveis pelo fabrico dos aparelhos. Isto apesar de quer a Microsoft, quer a Google, fornecerem os seus sistemas Windows Phone e Android a outros fabricantes, como a HTC e a Samsung.
 
Para o líder da Microsoft, Steve Balmer, este negócio representa uma “reinvenção” e uma das derradeiras oportunidades de colocar a Microsoft finalmente com sucesso a concorrer com a Apple e a Google, depois dos “flops” com os lançamentos do Surface e do Windows 8.
 
Vários duvidam que a Microsoft ainda vá a tempo de delinear uma estratégia que contrarie o declínio recente das vendas, que resultado da queda das vendas de computadores pessoais (onde a Microsoft é líder histórico na venda de “software”) em detrimento de aparelhos móveis como “smartphones” e “tablets”.
 
“A questão é saber se ao juntar duas empresas fracas vamos ter um novo concorrente forte. É duvidoso. A Nokia e a Microsoft realmente perderam o barco nos ‘smartphones’ e é muito difícil recuperar o terreno perdido”, comentou à Bloomberg Paul Budde, um consultor de telecomunicações.
 
“A Microsoft estava a contar com a Nokia para tornar o Windows Phone um sucesso e a Nokia estava a contar com a Microsoft para aumentar as vendas. Agora é o tempo de a Microsoft tomar conta do seu próprio destino”, diz Francisco Jerónimo, estimando que mais negócios deste género venham a ocorrer no futuro, criando empresas com o controlo de toda a cadeia de valor neste negócio, como sempre fez a Apple.
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